Crise de grandes empresas afeta as MPEs

Ao longo de 2023, de forma inevitável foi necessário abordar com certa recorrência dois temas: os pedidos de recuperação judicial de grandes grupos e a importância das pequenas e médias empresas para a economia do país. E claro, basta observar as movimentações para entender que esses dois focos estão totalmente correlacionados e uma pesquisa recente do SEBRAE mostrou em números esse impacto.

Veja o quanto é necessário refletir sobre o atual momento. As micro e pequenas empresas (MPEs) representam quase metade dos credores de grandes grupos empresariais que entraram em processos de recuperação judicial no Brasil. O levantamento analisou 14.924 empresas credoras, constatando que 47,4% delas são de micro e pequeno porte, distribuídas em todos os estados do país. A pesquisa se baseou em dados de nove conglomerados que divulgaram suas listas de credores de janeiro a maio deste ano. Os conglomerados incluídos no estudo são Americanas, Grupo Petrópolis, Drogaria Santa Marta, Graneleiro, Paranapanema, DP4, Nexpe, Dissim e Dok*.

Nesse sentido, a partir dessa constatação, é fundamental entender que a vulnerabilidade das pequenas empresas como credores em processos de recuperação judicial merece total atenção, como bem lembrou Ivan Tonet, coordenador de mercados e transformação digital do Sebrae. Ele observou que muitas vezes essas empresas dependem dos grandes grupos como clientes e, geralmente, não possuem recursos para suportar longos períodos sem receber pagamentos.

Veja abaixo outros pontos focais que foram destacados pela pesquisa e revelam um panorama abrangente:
• Regionalmente, o Sudeste e o Nordeste lideram em termos de quantidade de credores, com 61% e 16%, respectivamente. O Sul contribui com 11%, o Centro-Oeste com 8% e o Norte com 4%, de acordo com a pesquisa.

• O tipo de negócio mais comum entre os credores varia de acordo com a região. No Nordeste, por exemplo, o setor de postos de combustíveis representa 65% dos créditos a receber, enquanto no Sudeste, 32% dos créditos devidos a MPEs pertencem a atacadistas especializados em produtos alimentícios, bebidas e fumo.

• O estudo identificou um aumento de 37% nos pedidos de recuperação judicial por parte de médias e grandes empresas e um aumento de 30,2% nas deferências desses pedidos entre 2022 e 2023, considerando o período de janeiro a maio.

Por fim, vale ainda fazer um alerta em relação ao fato de que a recuperação judicial, cada vez mais, tem sido usada como um instrumento de enfrentamento de crises pelos agentes econômicos, como já mencionei em outros artigos publicados. Com isso (e os números vieram apenas para confirmar este fato) é possível observar que existe uma forte tendência de aumento do número de recuperações judiciais nos próximos anos. Como gosto de lembrar também, o mercado é vivo, pulsante. E cabe a cada empresa se adaptar a ele para permanecer de forma saudável no ecossistema.

*Fonte: https://economicnewsbrasil.com.br/2023/09/05/micro-e-pequenas-empresas-lideram-recuperacoes

Benito Pedro Vieira Santos
CEO da Avante – Especialista em Governança Corporativa e Reestruturação Empresarial.

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